
É compreensível que, ao receber o diagnóstico de uma lesão de alto grau (HSIL/NIC 2, 3) no Papanicolau, a paciente sinta um misto de desespero e preocupação.
A boa notícia é que, após a confirmação pela colposcopia, podemos agir com a retirada dessa porção alterada do colo do útero – um procedimento conhecido popularmente como conização ou CAF. Esse é um passo fundamental e vitorioso na sua jornada de saúde!
No entanto, é justamente após esse tratamento que surge uma preocupação importante: muitas pacientes se sentem totalmente curadas e acabam abandonando o acompanhamento médico regular. E é aqui que mora o perigo.
Após o tratamento de lesões de alto grau (HSIL/CIN 2, 3), a necessidade de realizar um exame de colposcopia no acompanhamento depende dos resultados dos testes de seguimento, que são prioritariamente baseados no teste de HPV.
Aqui está o que as diretrizes recomendam:
Após o tratamento de lesões de alto grau, o acompanhamento preferencial em 6 meses é realizado com o PCR para HPV de alto risco com genotipgem, independentemente do status das margens do espécime excisional.
A Colposcopia será recomendada se PCR para HPV detectar HPV de alto risco.
No Brasil, o SUS realiza o acompanhamento pós-tratamento de lesões de alto grau com citologia em alguns cenários e com citologia e colposcopia combinadas em outros. Se o exame histopatológico da conização indicar margens livres de doença ou comprometidas por NIC I, o acompanhamento inicial é feito com citologia aos 6 e 12 meses, e a colposcopia pode ser realizada a critério do serviço (facultativa). Contudo, se as margens vierem comprometidas por NIC II/III, a recomendação é realizar citologia e colposcopia semestrais durante os primeiros dois anos. Após esse período de dois anos (se os resultados forem consistentemente normais nesse intervalo), o seguimento passa a ser apenas com citologia anual até completar cinco anos do tratamento.
Uma vez que a paciente tenha completado com sucesso os três exames de PCR para HPV anuais negativos, ela passa para um regime de vigilância mais espaçado: a cada 3 anos, por pelo menos 25 anos após o tratamento da lesão de alto grau. Isso reflete a compreensão de que o risco de câncer cervical permanece elevado por décadas após o tratamento.
As diretrizes brasileiras do INCA, publicadas em 2016, preconizam o exame citopatológico (Papanicolau) como a principal ferramenta para o seguimento de longo prazo no Sistema Único de Saúde (SUS), com recomendações específicas para a frequência, que são influenciadas pelo status das margens cirúrgicas da conização.
O INCA recomenda a citologia aos 6 e 12 meses após o procedimento. Subsequentemente, o seguimento deve ser feito com citologia anual até completar cinco anos do tratamento. A colposcopia nesse cenário poderá ser realizada a critério do serviço.
O regime de vigilância é mais intensivo nos primeiros dois anos, incluindo exame citopatológico e colposcopia semestrais. Após esses dois anos, a recomendação é de citologia anual até completar os cinco anos de tratamento.
Ambas as diretrizes visam garantir a segurança da paciente, mas a escolha da ferramenta principal de vigilância e a duração específica do seguimento refletem diferentes ponderações sobre a sensibilidade dos testes, o custo-efetividade e a organização dos sistemas de saúde.
Em suma, embora o teste de HPV seja a ferramenta mais sensível e preferencial para a vigilância pós-tratamento, o Exame de Papanicolau ainda é uma ferramenta de seguimento importante nas diretrizes brasileiras (INCA), e a colposcopia entra no manejo de forma estratégica, seja para investigar um teste de HPV positivo, uma citologia alterada, ou como parte de um protocolo de alto risco com margens comprometidas.
Agende seu exame de colposcopia com a Dra. Flávia Menezes, ginecologista especialista em HPV
Artigo por Dra. Flávia Menezes (CRM RJ: 62429-2 / RQE: 51496) – Ginecologista com qualificação em patologias do trato genital inferior e colposcopia (2009).
Fontes Consultadas (Bibliografia):
1. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer. José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro: INCA, 2019.
8. 2019 ASCCP Risk-Based Management Consensus Guidelines for Abnormal Cervical Cancer Screening Tests and Cancer Precursors. Perkins, Rebecca B.; Guido, Richard S, then et al. Journal of Lower Genital Tract Disease: April 2020 - Volume 24 - Issue 2 - p 102-131