Colposcopia com Biópsia: 5 dúvidas mais frequentes

Receber a indicação de uma colposcopia pode gerar muitas dúvidas e até um certo receio. É completamente normal! Afinal, é um exame que, embora fundamental, muitas vezes não faz parte da nossa rotina.

Mas a boa notícia é que a colposcopia é uma ferramenta poderosa na detecção precoce de lesões causadas pelo HPV e outras alterações no colo do útero, vagina e vulva.

A detecção precoce é a chave para um tratamento mais simples e eficaz, aumentando significativamente as chances de cura.

Aqui no consultório, percebo que, por mais simples que seja o procedimento em si, ainda há muita desinformação. Por isso, decidi reunir e responder às cinco dúvidas mais frequentes que escuto das minhas pacientes sobre a colposcopia com biópsia.

1.    O que é a colposcopia com biópsia?

A Colposcopia é um exame especializado que permite ao médico ginecologista examinar de forma detalhada e ampliada a região do colo do útero, da vagina e, se necessário, da vulva.

Para isso, utilizamos um aparelho chamado colposcópio. Ele funciona como um microscópio binocular de alta resolução que, posicionado à frente da paciente, oferece uma visão ampliada (geralmente de 6x a 40x) e iluminada dessas áreas. Essa ampliação permite identificar alterações minúsculas que seriam invisíveis a olho nu.

Durante o procedimento, aplicamos algumas soluções no colo do útero para realçar possíveis lesões:

  • Ácido acético: Esta é uma solução, quando aplicada no colo do útero, faz com que as áreas alteradas pelo HPV fiquem temporariamente brancas e opacas, um fenômeno conhecido como "epitélio acetobranco". Essa mudança de cor é importante, pois realça as áreas suspeitas, tornando-as visíveis através do colposcópio e orientando o médico para a realização de biópsias direcionadas, se necessário.
  • Solução de Lugol (iodo) – Teste de Schiller: O iodo reage com as células maduras e saudáveis do colo do útero, colorindo-as de marrom escuro. Células anormais ou imaturas não se coram com o Lugol, permanecendo claras ou amareladas, sendo chamadas de "iodo-negativo" ou "Schiller-positivo" (indicando positividade para anormalidade).

Se o colposcopista identificar alguma área suspeita, que possa ser uma lesão, ele realizará uma biópsia dirigida.

A biópsia consiste na retirada de um ou mais pequenos fragmentos de tecido dessa área alterada, utilizando uma pinça de biópsia específica.

Esse material é então cuidadosamente armazenado e enviado para análise em laboratório, sob um microscópio, onde um patologista poderá confirmar a natureza da lesão, seu tipo histológico e sua gravidade.

É a biópsia que fornece o diagnóstico definitivo.

2.    Quais as 5 principais indicações para se fazer o exame de colposcopia?

A colposcopia é um exame complementar, ou seja, geralmente é indicada após um resultado alterado em outro exame ou quando há uma suspeita clínica que exige uma investigação mais aprofundada.

As principais indicações são:

1.     Papanicolau Alterado:

Essa é a indicação mais comum. Seu Papanicolau (citopatológico) pode apresentar diversas alterações que indicam a necessidade de uma colposcopia para melhor avaliação:

ASC-US (Atypical Squamous Cells of Undetermined Significance):

Células escamosas atípicas de significado indeterminado. É a alteração mais comum e menos grave, muitas vezes transitória, mas que exige investigação.

LSIL (Low-grade Squamous Intraepithelial Lesion) / NIC 1 (Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau 1):

Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau. Indica uma infecção por HPV com alterações celulares leves.

HSIL (High-grade Squamous Intraepithelial Lesion) / NIC 2/NIC 3 (Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau 2/3):

Lesão intraepitelial escamosa de alto grau. Indica alterações celulares mais significativas, com maior potencial de progressão para câncer se não tratadas.

ASC-H (Atypical Squamous Cells, cannot exclude HSIL):

Células escamosas atípicas, não se pode excluir lesão de alto grau. Indica uma alteração que pode ser mais séria que o ASC-US.

AGC (Atypical Glandular Cells):

Células glandulares atípicas. Indica alterações nas células glandulares do colo do útero, que podem ser mais difíceis de diagnosticar e podem estar associadas a lesões mais profundas.

AIS (Adenocarcinoma in situ):

Adenocarcinoma in situ. É uma lesão pré-cancerosa glandular de alto grau.

2.     Teste de HPV de Alto Risco Positivo:

Se o seu Papanicolau for normal, mas o PCR para HPV identificar os tipos de alto risco 16 e/ou 18, a colposcopia é indicada. Esses são os tipos de HPV mais oncogênicos, responsáveis por aproximadamente 70% dos casos de câncer de colo do útero. A presença desses tipos, mesmo com citologia normal, justifica a investigação direta do colo.

Teste de HPV de Alto Risco Persistente (Não 16/18): Se o seu Papanicolau for normal, mas você tiver dois testes positivos para tipos de HPV de alto risco (que não são o 16 ou 18) com um intervalo de aproximadamente 1 ano, a colposcopia também é indicada. A persistência da infecção por HPV de alto risco é o principal fator de risco para o desenvolvimento de lesões pré-cancerígenas e câncer.

3.     Colo do Útero com Aparência Anormal no Exame Especular:

Mesmo com um Papanicolau normal, se o ginecologista, durante o exame de rotina, observar visualmente alguma alteração suspeita no colo do útero (como áreas avermelhadas que sangram facilmente ao toque, verrugas, úlceras, pólipos suspeitos, ou padrões vasculares anormais), ele pode indicar a colposcopia para uma avaliação mais aprofundada e direcionada.

4.     Sangramento Vaginal Anormal ou Inexplicável:

Especialmente sangramento após a relação sexual, sangramento entre os períodos menstruais ou sangramento na pós-menopausa, que não tenha uma causa óbvia, pode ser uma indicação para colposcopia para descartar lesões no colo do útero.

5.     Acompanhamento Pós-Tratamento:

Após procedimentos para remover lesões cervicais, como a conização por CAF/LEEP, a colposcopia é essencial para monitorar a cicatrização, garantir a ausência de doença residual e detectar possíveis recorrências.

Existem outras indicações menos comuns, mas estas são as mais frequentes que levam à realização do exame, todas visando a detecção precoce e a prevenção de condições mais graves.

3.    O exame de colposcopia causa dor?

Essa é, sem dúvida, uma das maiores preocupações!

A boa notícia é que o exame de colposcopia em si não é doloroso.

O que você pode sentir é um desconforto similar ao de um exame ginecológico de rotina (o toque ou a inserção do espéculo vaginal), que pode incluir uma sensação de pressão ou frio.

Se houver necessidade de realizar uma biópsia, a sensação pode variar de pessoa para pessoa. A região do colo do útero possui poucas terminações nervosas responsáveis pela dor aguda, sendo mais sensível a estímulos de pressão ou distensão. Por isso, a maioria das mulheres relata apenas um leve desconforto, uma sensação de "beliscão" ou uma cólica discreta, semelhante a uma cólica menstrual suave, no momento da retirada do pequeno fragmento de tecido. Outras pacientes, no entanto, não sentem qualquer dor.

Após a biópsia, é comum ter um sangramento vaginal leve ou uma secreção amarronzada/escura por alguns dias. Isso ocorre devido à pequena ferida deixada pela biópsia no colo do útero e à aplicação de soluções hemostáticas (para parar o sangramento) ou do próprio Lugol. Também pode haver uma cólica leve, que geralmente cede com analgésicos comuns.

Se você está apreensiva, desapegue desse sentimento! O procedimento é extremamente tranquilo. Meu compromisso é garantir que você se sinta o mais confortável possível, explicando cada passo e realizando o exame com delicadeza e atenção.

4.    Preciso fazer alguma preparação antes do exame de colposcopia?

Sim, existem alguns preparos importantes que você deve seguir para garantir a qualidade e a precisão do seu exame, otimizando a visualização e evitando resultados inconclusivos:

  • Não usar cremes vaginais que causem a descamação da vagina e do colo do útero.
  • Não estar menstruada: O exame não deve ser realizado durante o período menstrual, pois o sangramento ativo pode dificultar a visualização completa do colo do útero e a coleta adequada da amostra, comprometendo a precisão do resultado. O ideal é agendar o exame para o meio do ciclo menstrual, quando o colo está mais acessível e a visualização é ótima.
  • Exceção ao sangramento: A única exceção para a menstruação é se a indicação para a colposcopia for a investigação de um sangramento anormal e persistente que não cessa, como sangramento pós-coito ou sangramentos irregulares e inexplicáveis. Nesses casos, o médico deve considerar a realização do exame mesmo com sangramento, pois a urgência da investigação de uma condição potencialmente grave se sobrepõe ao ideal de visualização.
  • Absorventes Internos: NÃO use absorvente interno no dia do exame, pois pode ressecar a vagina e dificultar a colocação do espéculo ginecológico.
  • Mulheres no Climatério ou Pós-Menopausa: Se não utiliza terapia de reposição hormonal, a atrofia genital pode afetar o exame. É altamente recomendado o uso de creme de estrogênio vaginal por 21 dias antes da colposcopia, conforme diretrizes nacionais, para preparar o tecido e evitar resultados inconclusivos. Converse com seu médico para prescrição adequada.
  • Corrimento Vaginal: Condições como candidíase ou vaginose bacteriana precisam ser tratadas antes do exame, pois o corrimento pode mascarar lesões e prejudicar a qualidade da avaliação.

Seguir as orientações do seu médico é fundamental para um resultado confiável.

5.    Gestante pode fazer colposcopia?

Sim, claro! A colposcopia é um exame seguro para ser realizado durante a gravidez. Lembre-se, o colposcópio é apenas uma grande lente de aumento que observa o colo uterino externamente, sem entrar em contato direto com a paciente.

No entanto, é importante que o exame seja realizado por um profissional experiente e qualificado em colposcopia, especialmente em gestantes.

Durante a gravidez, a fisiologia do colo do útero muda significativamente: ele se torna mais edemaciado (inchado), vascularizado (com mais vasos sanguíneos) e pode apresentar uma eversão glandular mais pronunciada (ectrópio), onde as células glandulares de dentro do canal cervical se expõem para fora. Essas alterações fisiológicas podem simular lesões e dificultar a interpretação, levando a resultados falso-positivos em mãos menos experientes.

Muito importante: Durante a gestação, a conduta em relação a biópsias e tratamentos de lesões é muito mais conservadora.

Na maioria dos casos de lesões pré-cancerígenas (como NIC 1, NIC 2 ou NIC 3), a conduta será de observação e acompanhamento rigoroso ao longo da gravidez.

Isso ocorre porque muitas lesões de baixo grau (NIC 1) e até algumas de alto grau (NIC 2/3) podem regredir espontaneamente após o parto, devido às mudanças hormonais e à remodelação do colo do útero.

Biópsias deverão ser realizadas apenas se houver uma forte suspeita colposcópica de câncer invasor. Mesmo assim, a biópsia é feita com cautela, sendo preferencialmente uma biópsia única e pequena.

Tratamentos mais agressivos (como conização por CAF/ LEEP) são geralmente autorizados apenas em casos de forte suspeita de CÂNCER INVASOR.

Caso contrário, o profissional deve realizar somente a colposcopia para acompanhar a evolução, adiando o tratamento definitivo para o período pós-parto.

Espero que este artigo tenha esclarecido suas principais dúvidas sobre a colposcopia com biópsia.

Agende sua colposcopia com a Dra. Flávia Menezes, especialista em HPV.

Artigo por Dra. Flávia Menezes (CRM RJ: 62429-2 / RQE: 51496) – Ginecologista com qualificação em patologias do trato genital inferior e colposcopia (2009).

Fontes Consultadas (Bibliografia):

1.           Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer. José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro: INCA, 2019.

2.           Apgar B., Colposcopia: Princípios e Práticas. Atlas e Texto. Segunda edição. Capítulo 7. 129-158

4.           Mayeaux. Tratado & Atlas – Colposcopia Moderna. ASCCP. Capítulo 7. 129-159

7.           2019 ASCCP Risk-Based Management Consensus Guidelines for Abnormal Cervical Cancer Screening Tests and Cancer Precursors. Perkins, Rebecca B.; Guido, Richard S, then et al. Journal of Lower Genital Tract Disease: April 2020 – Volume 24 – Issue 2 – p 102 – 131.

Dra. Flávia Menezes - CRM: 5262429-2 / RQE:51496

Dra. Flávia Menezes
CRM: 5262429-2 / RQE:51496

Médica Ginecologista e Colposcopista.

Especialista em Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia (PTGI).

Mais de 20.000 exames de colposcopia realizados.

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Sobre mim

Médica formada pela UFRJ com mais de 20 mil exames de colposcopia realizados. Formada em ginecologia e especialista em HPV.

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