Vacina contra o HPV: 7 dúvidas importantes

Tenho recebido muitas perguntas de vocês sobre a vacina contra o HPV.

Para ajudar a esclarecer todas essas questões de forma clara e acessível, preparei este artigo, para que você se sinta completamente informada e segura para tomar as melhores decisões sobre sua saúde e a de quem você ama.

1.    Para quem já foi infectado, qual a importância de tomar a vacina contra o HPV?

Essa é uma das perguntas mais comuns e uma das mais importantes! A vacina contra o HPV é, primariamente, uma medida preventiva, mas sua importância se estende mesmo para quem já teve contato com o vírus.

Até recentemente, o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) e o Comitê Consultivo para Práticas de Imunização (ACIP) recomendavam a vacinação contra o HPV para todas as pessoas, homens e mulheres, até 26 anos de idade, independentemente de terem sido ou não infectadas pelo vírus. Mas as recomendações evoluíram e se adaptaram à nossa realidade e às novas evidências.

A relevância da vacinação para quem já foi infectado reside principalmente em dois pontos cruciais:

  • Proteção contra novos tipos de HPV: A vacina protege contra os tipos de HPV mais relacionados ao câncer e a outras doenças, como verrugas genitais. Existem diversas variantes do vírus, e mesmo que você já tenha sido exposta a um tipo específico de HPV, a vacina pode protegê-la contra os outros tipos que ela abrange e aos quais você ainda não foi exposta. É como ter um "seguro" contra futuras infecções por outros subtipos do vírus.
  • Redução da carga viral e prevenção de reinfecções: Embora a vacina não cure uma infecção já estabelecida nem trate lesões existentes, ela evita novas infecções. Ao prevenir a aquisição de novos tipos virais, a vacinação contribui para a saúde individual, evitando a exposição contínua e a potencial manifestação de doenças causadas por outros genótipos.

2.    Vacina HPV: O SUS Recomenda a Dose Única?

As diretrizes do Programa Nacional de Imunizações (PNI) no Brasil, passaram por atualizações significativas, reforçando a importância da vacinação.

Atualmente, o PNI adota uma dose única para crianças e adolescentes de 9 a 14 anos e, como estratégia temporária de resgate, também para adolescentes de 15 a 19 anos que não receberam nenhuma dose da vacina quadrivalente (HPV4).

Além disso, grupos específicos, como imunocomprometidos e vítimas de abuso sexual, mantêm esquemas de múltiplas doses, e a vacina foi incorporada para pessoas com Papilomatose Respiratória Recorrente (PRR), mesmo que essa seja uma indicação "fora de bula".

Isso demonstra que a proteção é um objetivo contínuo, independentemente do status de infecção prévia, visando sempre o maior benefício individual e coletivo.

3.    A vacina ajuda na eliminação do vírus do HPV?

A resposta precisa ser bem clara: a vacina contra o HPV é profilática, ou seja, ela é preventiva.

Ela NÃO trata lesões causadas pelo HPV.

Ela NÃO ajuda a eliminar o vírus do HPV que já está presente no seu organismo.

 Ela NÃO trata condilomas (verrugas genitais).

Ela NÃO trata lesões pré-cancerígenas no colo do útero (como a NIC 1, 2 ou 3).

A principal função da vacina é prevenir novas infecções pelos tipos de HPV contidos nela.

Por exemplo, a vacina quadrivalente (HPV4), disponível na rede pública no Brasil, protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18.

A vacina nonavalente (HPV9), disponível na rede particular, estende essa proteção para mais cinco tipos oncogênicos (31, 33, 45, 52 e 58), ampliando a cobertura contra o câncer de colo do útero de 70% (com a HPV4) para cerca de 90%.

É fundamental entender que a vacina atua antes que a infecção ocorra, estimulando o sistema imunológico a produzir anticorpos que reconhecem e neutralizam o vírus caso haja exposição futura.

Ela não tem ação terapêutica contra infecções ou doenças já estabelecidas.

4.    Depois do meu tratamento, que estou fazendo para condiloma na vulva e NIC 1 no colo do útero, eu devo tomar a vacina contra o HPV?

Sim, a vacina pode e deve ser considerada em seu caso!

Mesmo durante ou após o tratamento de lesões causadas pelo HPV, como condilomas ou NIC 1, a vacinação é recomendada.

O raciocínio por trás disso é o mesmo que mencionamos na primeira pergunta: a vacina é preventiva e sua eficácia é em relação a novas infecções.

O fato de você já ter uma infecção ou lesão por HPV significa que você foi exposta a um ou mais tipos do vírus. No entanto, a vacina oferece proteção contra os demais tipos de HPV que ela abrange e com os quais você ainda não teve contato.

Imagine que você já pegou um resfriado. Uma vacina contra a gripe não vai curar seu resfriado atual, mas pode protegê-lo de pegar outros tipos de gripe no futuro. Com o HPV é parecido: a vacina não tratará as lesões que você já tem nem eliminará o vírus que as causou, mas ela pode prevenir que você seja infectada por outros tipos de HPV, reduzindo significativamente o risco de desenvolver novas lesões ou doenças relacionadas a esses outros tipos no futuro.

5.    Já tenho HPV. Se eu me vacinar, irei evitar contaminar outras pessoas?

Essa pergunta nos leva a um conceito muito importante em saúde pública: a imunidade de rebanho.

Individualmente, se você já tem um tipo específico de HPV, a vacina não agirá para eliminar esse vírus já adquirido e, portanto, não diminuirá o número de cópias virais desse tipo já existente no seu organismo.

Consequentemente, para o(s) tipo(s) de HPV que você já possui, a vacina não impede diretamente a transmissão.

O risco de contaminar outras pessoas é geralmente maior na presença de lesões ativas, como verrugas (condilomas). Pacientes com lesões intraepiteliais de baixo grau (NIC 1) sem verrugas visíveis, por exemplo, tendem a ter um risco menor de transmissão, embora esse seja um campo que ainda requer mais estudos científicos.

No entanto, a vacinação em massa tem um impacto coletivo gigantesco na redução da transmissão do HPV na população.

É aqui que entra a imunidade de rebanho.

Quando uma grande parte da população está vacinada, a circulação do vírus diminui drasticamente, protegendo indiretamente até mesmo aqueles que não foram vacinados (seja porque não podem, seja porque ainda não tiveram a oportunidade).

Portanto, ao se vacinar, mesmo que você já tenha HPV, você está fazendo sua parte para:

  • Proteger-se contra outros tipos de HPV: Evitando adquirir novas infecções, você reduz a variedade de tipos de HPV que seu corpo pode carregar.
  • Contribuir para a saúde coletiva: Cada pessoa vacinada contribui para a diminuição geral da circulação do vírus na comunidade, protegendo as futuras gerações e a si mesma de reinfecções. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) está de pleno acordo com a adoção do regime de dose única pelo PNI, pois a mudança visa ampliar o acesso e intensificar a cobertura vacinal, com potencial para reduzir a prevalência do vírus HPV na população jovem e acelerar a eliminação do câncer de colo do útero no Brasil.

6.    Esquema anterior do SUS: 2 doses eram suficientes para adolescentes?

Essa é uma pergunta que passou por atualizações muito importantes recentemente, e a boa notícia é que as evidências científicas têm sido cada vez mais favoráveis a esquemas simplificados!

Historicamente, o PNI de fato disponibilizava um esquema de duas doses para adolescentes. No entanto, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) no Brasil, seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), atualizou suas diretrizes.

A grande novidade é que o PNI agora adota o esquema de DOSE ÚNICA da vacina HPV no Calendário Nacional de Vacinação para pessoas do sexo feminino e masculino de 9 a 14 anos de idade!

Essa mudança se baseia em "evidências robustas de que uma dose da vacina HPV pode fornecer proteção igual a duas ou três doses (a depender da idade), em ambientes de altas coberturas vacinais".

 A adoção da dose única visa aumentar a adesão à vacinação, ampliar a cobertura vacinal e, consequentemente, impulsionar a imunidade de rebanho e a eliminação do câncer de colo do útero.

Então, para adolescentes de 9 a 14 anos, sim, uma única dose é considerada suficiente para a imunização, conforme a nova diretriz do SUS.

Além disso, o PNI implementou uma estratégia temporária de resgate para adolescentes de 15 a 19 anos que nunca foram vacinados, oferecendo também uma dose única.

Para outros grupos, as recomendações são diferentes:

  • Imunocomprometidos: Pessoas de 9 a 45 anos com imunodeficiência ou imunossupressão devem receber três doses da vacina. Esse esquema é feito nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE).
  • Pessoas de 9 a 45 anos vítimas de abuso sexual: Devem seguir o esquema previsto em bula para a faixa etária, que pode ser de duas doses (para 9 a 14 anos) ou três doses (para 15 a 45 anos).
  • Pessoas com Papilomatose Respiratória Recorrente (PRR): Foram incluídas como grupo prioritário para vacinação no PNI, com esquema de doses a ser definido oportunamente. Essa é uma indicação "fora de bula", mas com evidências crescentes de benefício.

7.    Quais as recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) para a vacina HPV9 (rede particular):

A SBIm, que elabora calendários vacinais com olhar individualizado, sempre que possível, recomenda a utilização preferencial da vacina HPV9 por sua maior abrangência.

Para a HPV9, os esquemas podem variar ligeiramente com base na idade e histórico vacinal:

  • Para quem não tem histórico de HPV4 e tem de 9 a 19 anos: Duas doses de HPV9, com seis meses de intervalo (0-6 meses).
  • Para quem não tem histórico de HPV4 e tem de 20 a 45 anos: Três doses de HPV9 (0-2-6 meses).
  • Para quem já tomou HPV4: Existem recomendações específicas para iniciar ou completar o esquema com HPV9, variando conforme a idade e o número de doses anteriores de HPV4. Por exemplo, se você tem 9 a 19 anos e tomou uma dose de HPV4, a SBIm sugere iniciar esquema de duas doses de HPV9, dois meses após a dose de HPV4. Se você tem 20 a 45 anos e tomou duas doses de HPV4, a recomendação é iniciar esquema de três doses de HPV9, três meses após a segunda dose de HPV4.
  • Imunocomprometidos (para HPV9): Esquema de três doses (0-2-6 meses).

É importante notar que a decisão do PNI pela dose única é um grande passo para a saúde pública no Brasil, visando maximizar a cobertura vacinal e acelerar a eliminação do câncer de colo do útero, conforme a meta da OMS.

A Sociedade Brasileira de Imunizações apoia essa iniciativa, reconhecendo o potencial de ampliar o acesso e reduzir as taxas de infecção.

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Artigo por Dra. Flávia Menezes (CRM RJ: 62429-2 / RQE: 51496) – Ginecologista com qualificação em patologias do trato genital inferior e colposcopia (2009).

1. De Bondt D, Naslazi E, Jansen E, Kupets R, McCurdy B, Stogios C, de Kok I, Hontelez J. Validating the predicted impact of HPV vaccination on HPV prevalence, cervical lesions, and cervical cancer: A systematic review of population level data and modelling studies. Gynecol Oncol. 2025;195:134–43.

2. Levi M, Cunha J, Kfouri R, Richtmann R. Esclarecimento sobre os esquemas em vigor das vacinas HPV. Informe SBIm [Internet]. São Paulo: Sociedade Brasileira de Imunizações; 2024 Apr 15 [citado 2025 Jul 06]. Disponível em: sbim.org.br

3. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Departamento do Programa Nacional de Imunizações, Coordenação-Geral de Incorporação Científica e Imunização. Nota Técnica Nº 41/2024-CGICI/DPNI/SVSA/MS: Atualização das recomendações da vacinação contra HPV no Brasil [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2024 Apr 02 [citado 2025 Jul 06]. Disponível em: www.gov.br

Dra. Flávia Menezes - CRM: 5262429-2 / RQE:51496

Dra. Flávia Menezes
CRM: 5262429-2 / RQE:51496

Médica Ginecologista e Colposcopista.

Especialista em Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia (PTGI).

Mais de 20.000 exames de colposcopia realizados.

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Médica formada pela UFRJ com mais de 20 mil exames de colposcopia realizados. Formada em ginecologia e especialista em HPV.

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