HPV: Suas 10 Maiores Dúvidas Respondidas por uma Especialista

O HPV (Vírus do Papiloma Humano) é um dos tópicos que mais geram ansiedade e desinformação no meu consultório.

É compreensível! Com milhões de pessoas infectadas em todo o mundo, é natural que muitas dúvidas surjam.

A prevalência é tão alta que, de acordo com o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) dos EUA, praticamente todas as pessoas sexualmente ativas terão HPV em algum momento de suas vidas.

Como especialista no tratamento do HPV, tendo atendido mais de 20 mil pacientes, percebo que grande parte do sofrimento e do medo vem da falta de clareza.

Minha missão é te trazer paz através do conhecimento.

Por isso, preparei este guia simples e direto, respondendo às 10 perguntas mais frequentes que ouço diariamente sobre o HPV.

1. O que é HPV?

HPV significa Vírus do Papiloma Humano (do inglês: "Human Papillomavirus"). Ele é um tipo de vírus que pode infectar a pele e as mucosas (revestimento de áreas como boca, garganta, genitais e ânus).

Existem mais de 200 tipos diferentes de HPV identificados, e cerca de 40 deles podem infectar a região genital e o ânus.

O mais importante é que a infecção por HPV é MUITO comum!

Estudos globais indicam que aproximadamente 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em algum momento de suas vidas. Essa porcentagem pode ser ainda maior em homens.

A boa notícia é que a maioria dessas infecções é transitória: o próprio sistema imunológico do corpo consegue combater e eliminar o vírus espontaneamente, geralmente entre seis meses e dois anos após a exposição, principalmente em pessoas mais jovens e com sistema imunológico saudável.

Essa capacidade de “clearance” viral é fundamental para entender a dinâmica da infecção.

Viu só? Você não está sozinha nessa! A infecção por HPV é muito mais comum do que você imagina.

2. Como posso ter adquirido o vírus do HPV?

A transmissão do HPV ocorre por contato direto com a pele ou mucosa infectada. A principal forma de transmissão é a sexual, que inclui contato oral-genital, genital-genital ou até mesmo manual-genital.

Isso significa que o contágio pode acontecer mesmo na ausência de penetração vaginal ou anal.

O vírus pode ser transmitido por qualquer área de pele ou mucosa que tenha tido contato com a área infectada de outra pessoa.

De forma mais clara: a transmissão se dá principalmente pelo simples contato. É por isso que a camisinha, apesar de ser essencial para prevenir outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), NÃO protege 100% contra o HPV, pois as áreas não cobertas pelo preservativo podem estar infectadas.

3. Meu parceiro precisa ir a um médico? Meu parceiro me traiu?

É sempre recomendado que o parceiro também faça uma avaliação médica, idealmente com um urologista (para homens) ou ginecologista (para mulheres).

É importante verificar a possível presença de verrugas, placas ou lesões no pênis, bolsa escrotal, períneo, ânus ou vulva.

Quanto à pergunta sobre traição, a resposta é sempre NÃO.

Uma infecção por HPV não é indicativa de traição, pois o vírus pode permanecer "escondido" no organismo por muito tempo.

O período de incubação – desde a contaminação até o aparecimento de lesões visíveis – pode variar de dias, meses ou até mesmo anos.

Isso significa que você pode ter sido infectada há muito tempo por um parceiro anterior ou até mesmo pelo seu parceiro atual, mas o vírus só se manifestou agora devido a uma queda na imunidade ou outros fatores.

É praticamente impossível determinar quem te contaminou e quando isso aconteceu, e tentar fazê-lo só gera estresse e desconfiança desnecessários.

4. Há quanto tempo eu tenho o vírus do HPV?

Não há como saber por quanto tempo o HPV pode permanecer "adormecido" (latente) no organismo antes de causar alguma manifestação. ]

As lesões ou sintomas da infecção podem surgir meses ou até anos após o contato inicial.

Isso ocorre porque o vírus pode viver nas células sem causar danos aparentes por um longo período, e só se replicar e causar lesões quando as condições são favoráveis (por exemplo, uma diminuição da resposta imune).

Por esse motivo, não é possível determinar se a infecção foi recente ou antiga.

Tentar desvendar isso só aumenta a ansiedade e não traz nenhuma informação útil para o seu tratamento.

O importante é focar no presente e nos cuidados necessários para gerenciar a infecção e tratar as lesões existentes.

5. Quais são os sintomas da doença?

Esta é uma pergunta importante, pois muitos tipos de HPV não causam sintomas visíveis.

  • Verrugas genitais (condilomas): Alguns tipos de HPV (geralmente os de "baixo risco", como os tipos 6 e 11) causam o surgimento de verrugas genitais, que podem aparecer na região genital, ânus, virilha ou boca. Elas podem ter diferentes tamanhos e formatos (planas, elevadas, pediculadas, com aspecto de "couve-flor" ou pequenas pápulas isoladas). Podem ser únicas ou múltiplas, e podem causar coceira ou desconforto.
  • Assintomáticos e lesões subclínicas: Outros tipos de HPV (incluindo a maioria dos de "alto risco") simplesmente NÃO causam sintomas visíveis e só serão detectados por exames de rotina, como o Papanicolau (preventivo), PCR para HPV com genotipagem e o exame de colposcopia.

Importante: O preventivo NÃO tem por objetivo fazer diagnóstico de corrimento vaginal. Seu foco principal é a prevenção do câncer de colo do útero, que é causado na grande maioria das vezes pelo HPV. Ele rastreia as alterações celulares (displasias ou lesões intraepiteliais), e não a presença do vírus em si ou de infecções como corrimento.

6. A camisinha protege 100% contra o vírus do HPV?

Não, a camisinha não é uma proteção 100% efetiva contra o vírus HPV.

Como já mencionei, a transmissão do HPV ocorre pelo contato pele a pele ou mucosa a mucosa. A camisinha cobre apenas algumas áreas do órgão sexual, deixando outras expostas (como a base do pênis, a bolsa escrotal, a vulva, o períneo, a região pubiana, e até mesmo as coxas internas).

Assim, o vírus pode ser transmitido por essas áreas não protegidas pelo preservativo, mesmo com o uso correto.

Ainda assim, o uso da camisinha é fundamental para reduzir significativamente o risco de transmissão do HPV e é indispensável para prevenir outras ISTs, como HIV, sífilis, clamídia, gonorreia e herpes genital.

7. Posso ter HPV e meu preventivo ser NORMAL?

Sim, você pode ter o vírus do HPV e seu exame preventivo ser normal.

O exame preventivo (Papanicolau), embora seja uma ferramenta excelente de rastreamento, não tem sensibilidade de 100%. Isso significa que ele pode, em raras ocasiões, apresentar um "falso negativo", ou seja, não detectar células alteradas em uma amostra mesmo que o vírus esteja presente.

Isso pode ocorrer por diversos motivos: uma coleta inadequada onde as células alteradas não foram amostradas, as alterações eram muito sutis para serem identificadas no momento da leitura, ou o vírus está em fase latente e ainda não causou alterações celulares detectáveis.

É importante lembrar que o Papanicolau detecta alterações nas células causadas pelo HPV, e não a presença do vírus diretamente. Para detectar o vírus, seria necessário um PCR para HPV de ALTO RISCO com GENOTIPAGEM.

Mas fique calma! O câncer de colo do útero é uma doença de progressão muito lenta, levando anos para se desenvolver a partir das lesões pré-cancerígenas (NIC 1, NIC 2, NIC 3). Por isso, a chave é a periodicidade: o importante é repetir o seu preventivo sempre que seu médico solicitar.

A regularidade garante que qualquer alteração seja detectada a tempo, permitindo tratamento precoce e eficaz.

8. HPV tem cura?

SIM, AS LESÕES CAUSADAS PELO HPV TÊM CURA!

É importante diferenciar a infecção pelo vírus das lesões que ele pode causar.

  • Infecção pelo vírus: A maioria das pessoas sexualmente ativas será infectada pelo HPV pelo menos uma vez na vida. No entanto, como já dissemos, em quase 80% dos casos, o próprio organismo consegue eliminar o vírus de forma espontânea – um processo conhecido como clearance viral ou remissão espontânea – sem a necessidade de medicamentos, cremes ou tratamentos específicos. Acredita-se que o corpo "limpe" o vírus sozinho através de uma resposta imune eficaz.
  • Lesões: Se o vírus persiste e causa lesões (verrugas ou alterações nas células do colo do útero, vagina, vulva, ânus ou pênis), essas lesões podem e devem ser tratadas. E sim, elas têm cura! Os tratamentos variam conforme o tipo, localização e gravidade da lesão, mas as taxas de sucesso são altíssimas. O objetivo do tratamento é remover as células anormais ou as verrugas, permitindo que o tecido saudável se regenere.

O câncer de colo do útero é um desfecho muito raro, mesmo na presença de uma infecção persistente por HPV de alto risco. Isso porque temos os exames preventivos e tratamentos eficazes para as lesões antes que elas se tornem câncer. A detecção precoce é a chave para evitar a progressão da doença.

9. O hábito de fumar pode aumentar o risco de câncer de colo do útero?

SIM, com certeza! O tabagismo é um dos principais fatores de risco para:

O fumo pode suprimir a resposta imune local no colo do útero, dificultando que o corpo elimine o vírus. O fumo dificulta a cura espontânea do vírus do HPV.

O fumo permite a infecção persistente pelo HPV, o que é fundamental, já que a persistência viral (especialmente por tipos de alto risco) é um fator chave para o desenvolvimento de lesões e, eventualmente, do câncer.

Acho que está na hora de considerar seriamente parar de fumar, não acha? Sua saúde agradece!

10. Qual a diferença entre HPV de alto risco e HPV de baixo risco?

Os mais de 200 tipos de HPV são classificados em duas categorias principais com base no seu potencial de causar câncer:

  • HPV de Baixo Risco (não oncogênicos): São os tipos de vírus que não causam câncer. Ele são responsáveis pelas verrugas genitais (os famosos condilomas), que podem aparecer na região genital, ânus, virilha ou boca. Os tipos mais comuns de baixo risco são o HPV 6 e o HPV 11. Embora as verrugas possam ser incômodas e causar desconforto estético, elas não representam risco de câncer e são geralmente tratadas para alívio dos sintomas
  • HPV de Alto Risco (oncogênicos): São os tipos de vírus que podem causar alterações celulares que, se não tratadas, podem evoluir para câncer, principalmente o de colo do útero, mas também câncer de ânus, orofaringe (garganta), vagina, vulva e pênis. Os tipos mais conhecidos e estudados de alto risco são o HPV 16 e o HPV 18, que são responsáveis por aproximadamente 70% dos casos de câncer de colo do útero. Um HPV de alto risco muitas vezes causa inicialmente uma lesão de baixo grau (NIC 1 - Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau 1), que pode ter cura espontânea, mas requer acompanhamento rigoroso. Se essas lesões de baixo grau persistirem ou progredirem para lesões de alto grau (NIC 2, NIC 3), o risco de câncer aumenta significativamente, necessitando de tratamento.

Espero que o esclarecimento dessas dúvidas tenha sido uma forma de te tranquilizar sobre o HPV.

Lembre-se: o HPV, se identificado e tratado adequadamente, não será um tormento para a sua saúde.

Agende seu exame de colposcopia com a Dra. Flávia Menezes, especialista em HPV.

Artigo por Dra. Flávia Menezes (CRM RJ: 62429-2 / RQE: 51496) – Ginecologista com qualificação em patologias do trato genital inferior e colposcopia (2009).

Fontes Consultadas (Bibliografia):

  1. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer. José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro: INCA, 2019.
  2. Apgar B., Colposcopia: Princípios e Práticas. Atlas e Texto. Segunda edição. Capítulo 7. 129-158
  3. FEBRASGO – Manual de Orientação em Trato Genital Inferior e Colposcopia. 2010
  4. Mayeaux. Tratado & Atlas – Colposcopia Moderna. ASCCP. Capítulo 7. 129-159
  5. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Site
  6. Sexually Transmitted Infections Treatment Guidelines, 2021. Kimberly A. Workowski; Laura H. Bachmann; Philip A. Chan, then et at. MMWR Recomm Rep 2021; vol. 70/No4
  7. 2019 ASCCP Risk-Based Management Consensus Guidelines for Abnormal Cervical Cancer Screening Tests and Cancer Precursors. Perkins, Rebecca B.; Guido, Richard S, then et al. Journal of Lower Genital Tract Disease: April 2020 – Volume 24 – Issue 2 – p 102 – 131.

Dra. Flávia Menezes - CRM: 5262429-2 / RQE:51496

Dra. Flávia Menezes
CRM: 5262429-2 / RQE:51496

Médica Ginecologista e Colposcopista.

Especialista em Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia (PTGI).

Mais de 20.000 exames de colposcopia realizados.

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Sobre mim

Médica formada pela UFRJ com mais de 20 mil exames de colposcopia realizados. Formada em ginecologia e especialista em HPV.

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