
A saúde íntima feminina é um pilar fundamental para o bem-estar geral, e a vulvoscopia emerge como uma ferramenta diagnóstica essencial para a avaliação detalhada da região vulvar.
Muitas vezes comparada à colposcopia (realizada no colo do útero), a vulvoscopia é um exame que permite ao médico examinar a vulva com magnificação e iluminação, revelando detalhes que seriam invisíveis a olho nu.
Vamos explorar as principais doenças e alterações que a vulvoscopia pode detectar, oferecendo uma visão abrangente de sua importância.
A capacidade da vulvoscopia de visualizar alterações sutis na pele da vulva é de grande importância na detecção precoce de lesões que podem evoluir para câncer. Este é um dos seus papéis mais críticos.
1. Neoplasia Intraepitelial Vulvar (NIV): Antigamente conhecida como VIN (do inglês *Vulvar Intraepithelial Neoplasia*), a NIV refere-se a alterações pré-cancerígenas nas células da vulva. A vulvoscopia é fundamental para identificar áreas suspeitas. Ela guia a biópsia, que é a confirmação definitiva. A incidência de câncer vulvar (carcinoma espinocelular, por exemplo) tem aumentado em mulheres mais jovens, tornando a detecção precoce ainda mais relevante.
2. Carcinoma Espinocelular: Embora o diagnóstico definitivo seja histopatológico (biópsia), a vulvoscopia permite a identificação visual de lesões suspeitas, como úlceras persistentes, áreas de espessamento, nódulos ou mudanças de cor, que podem indicar a presença de um câncer já estabelecido.
3. Melanoma Vulvar e Máculas Melanóticas: A vulva pode apresentar lesões pigmentadas, e diferenciar uma mácula melanótica benigna (uma "pinta" na vulva) de um melanoma (um tipo agressivo de câncer de pele) é um desafio importante. O melanoma vulvar é mais comum nos pequenos lábios ou clitóris.
A vulva, devido à sua localização e características anatômicas, é propensa a diversas infecções. A vulvoscopia ajuda a identificar as manifestações visuais dessas condições.
Uma parte significativa das queixas vulvares está ligada a condições inflamatórias da pele, que a vulvoscopia ajuda a identificar e monitorar.
1. Líquen Escleroso (LE): Uma doença inflamatória crônica que afeta a pele anogenital, o LE é caracterizado por áreas esbranquiçadas, atróficas, com aspecto de "papel de cigarro", fissuras e alterações na arquitetura da vulva, como a reabsorção dos pequenos lábios e a fusão do capuz clitoriano. A vulvoscopia é essencial para o diagnóstico e monitoramento do LE, que tem potencial de malignização.
2. Líquen Plano (LP): Outra doença inflamatória que pode afetar a vulva, o LP pode ser erosivo e extremamente doloroso. A vulvoscopia revela áreas eritematosas, erosões e, por vezes, as estrias de Wickham (linhas brancas reticulares) nas mucosas.
3. Dermatite de Contato (Irritativa ou Alérgica): Causada pela exposição a irritantes (como produtos de higiene agressivos, urina, fezes) ou alérgenos (fragrâncias, conservantes, látex), a dermatite de contato causa eritema, edema e prurido. A vulvoscopia é importante para visualizar a extensão da inflamação e diferenciar os padrões, embora a identificação do agente causador muitas vezes exija uma investigação detalhada.
4. Líquen Simples Crônico (LSC): Uma condição que surge do círculo vicioso de coçar e irritar a pele, resultando em espessamento (liquenificação) e escoriações. A vulvoscopia mostra essas alterações e ajuda a identificar a extensão do problema.
5. Psoríase Vulvar: A psoríase pode afetar a vulva, apresentando-se como placas eritematosas bem delimitadas, muitas vezes sem a escamação prateada típica da psoríase em outras áreas do corpo devido à umidade local. A vulvoscopia permite a visualização dessas lesões.
6. Dermatite Seborreica Vulvar: Embora menos comum na vulva do que em outras áreas, pode apresentar-se como placas eritematosas e descamativas.
4. Condições Relacionadas à Atrofia e Hormônios
As mudanças hormonais ao longo da vida da mulher têm um impacto profundo na saúde vulvar e vaginal.
Atrofia Vulvovaginal (AVV) e Síndrome Geniturinária da Menopausa: Com a queda dos níveis de estrogênio, especialmente após a menopausa, a vulva e a vagina sofrem alterações atróficas. A vulvoscopia revela o afinamento e a palidez da pele e das mucosas, perda das rugas vaginais, fragilidade tecidual, fissuras e ressecamento. Essas alterações são importantes para entender os sintomas de ressecamento, dor na relação sexual e irritação.
A vulvoscopia desempenha um papel importante na avaliação de síndromes de dor crônica, especialmente aquelas com manifestações vulvares.
Vulvodínia: Definida como dor vulvar crônica (com duração de pelo menos 3 meses) sem causa identificável clara. A vulvoscopia é um exame fundamental para excluir outras causas de dor vulvar.
Diversas outras condições, benignas ou resultantes de traumas, também são identificadas pela vulvoscopia.
1. Cistos e Abscessos: A vulvoscopia permite identificar e localizar cistos (como os da glândula de Bartholin) e abscessos, que são coleções de pus.
2. Fístulas: Conexões anormais entre a vulva e outros órgãos (como reto ou uretra) podem ser visualizadas.
3. Edema Vulvar: O inchaço da vulva, que pode ter diversas causas (infecciosas, inflamatórias, traumáticas ou sistêmicas), é claramente visível e quantificável com a vulvoscopia.
A vulvoscopia é mais do que apenas uma inspeção visual; é uma ferramenta diagnóstica que permite:
1. Diagnóstico Preciso: Diferenciar entre condições com sintomas semelhantes, mas etiologias e tratamentos distintos.
2. Orientação de Biópsias: Delimitar com exatidão as áreas suspeitas que requerem biópsia, garantindo a coleta de material representativo para o diagnóstico histopatológico.
3. Monitoramento: Acompanhar a resposta ao tratamento de diversas condições e detectar recorrências ou progressão da doença.
Em suma, a vulvoscopia é uma aliada poderosa na manutenção da saúde íntima feminina. Ao permitir um olhar detalhado e magnificado da vulva, ela capacita os profissionais de saúde a oferecerem diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes, contribuindo significativamente para a qualidade de vida das mulheres.
Se você tem alguma preocupação com sua saúde vulvar, não hesite em procurar um profissional de saúde. Um diagnóstico precoce e preciso é sempre o melhor caminho.
Agende seu exame de colposcopia com a Dra. Flávia Menezes, ginecologista especialista em HPV.
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Artigo por Dra. Flávia Menezes (CRM RJ: 62429-2 / RQE: 51496) – Ginecologista com qualificação em patologias do trato genital inferior e colposcopia (2009).
Fontes Consultadas (Bibliografia):
1. Farage, Miranda A., and Howard I. Maibach, editors. The Vulva: Physiology and Clinical Management. 2nd ed., CRC Press, 2018.