
Você se pega imaginando os piores cenários? Descobriu que está infectada pelo vírus HPV e, após uma busca rápida no "Dr. Google", já está convencida de que o mundo vai acabar?
Calma! Respire fundo.
É provável que a situação seja muito menos assustadora do que a sua mente está imaginando.
A vida é, por natureza, uma jornada cheia de descobertas e, sim, alguns desafios.
Desde cedo, somos condicionados a nos precaver e a temer o desconhecido.
Nosso cérebro, programado para a sobrevivência, muitas vezes dispara o alerta de "perigo" mesmo diante de ameaças apenas potenciais.
No entanto, muitas vezes, essa tendência de antecipar problemas nos causa um sofrimento mental desnecessário e intenso, muito antes que qualquer coisa ruim realmente aconteça.
Esse hábito de "sofrer por antecipação" é uma armadilha que rouba sua paz interior e alimenta a ansiedade.
É como se você já estivesse vivendo a dor de um futuro que ainda nem existe.
Sua mente entra em um estado de alerta constante, liberando hormônios do estresse que, a longo prazo, podem impactar sua saúde física e mental.
Essa entrega aos pensamentos negativos é como dar corda a um relógio que só marca o tempo do sofrimento.
Sua energia é minada, as preocupações se acumulam e a vida se torna insuportável.
A paranoia pode, inclusive, impactar seus relacionamentos, gerando tensões desnecessárias com familiares e parceiros.
É comum sentir-se "suja", com a autoestima abalada, e a intimidade – incluindo o sexo – se torna algo a ser evitado, não por uma questão física, mas pela carga emocional e pelo estigma autoimposto.
Tudo isso, muitas vezes, acontece antes mesmo de você fazer o exame, conversar a fundo com seu médico ou conhecer o seu diagnóstico real.
Você não acha que está sendo um pouco precipitada com a própria felicidade?
Mergulhar nesse mar de ansiedade, antecipando cenários que ninguém confirmou, pode criar problemas reais e desnecessários na sua vida, afetando seu bem-estar emocional e suas conexões.
Mudar a mentalidade não é sobre ignorar a realidade, mas sobre gerenciá-la com inteligência emocional e basear suas reações em fatos, não em ficções.
"Não vou me consumir antes da hora. Vou aguardar o exame, conversar com meu médico e só então, com as informações em mãos, lido com o que for real. Até lá, mereço estar em paz e focar no meu bem-estar presente."
Lembre-se: o positivo atrai o positivo, e o contrário também é verdadeiro.
A mente é poderosa, e a forma como você a alimenta molda a sua realidade.
Se você se identificou com essa jornada de ansiedade, trago algumas dicas práticas para te ajudar a não sofrer por antecipação:
Não alimente a mente com especulações negativas.
Pensamentos catastróficos distorcem a realidade, diminuem sua autoconfiança e fazem você enxergar "problemas" onde talvez não existam.
Quando um pensamento ruim surgir, questione-o ativamente: "Isso é um fato comprovado ou apenas uma suposição baseada no meu medo? Qual é a evidência real para essa conclusão? O que posso fazer com essa informação agora, neste exato momento?
Na maioria das vezes, o medo que criamos em nossa mente é muito maior do que o problema em si.
Você está criando monstros onde, na verdade, pode haver algo simples de resolver ou gerenciar.
É fundamental entender que a vasta maioria das infecções por HPV é transitória e se resolve espontaneamente graças ao seu sistema imunológico.
Apenas uma pequena porcentagem de infecções persistentes, com tipos específicos de alto risco, pode levar a lesões que, se não tratadas, podem evoluir para câncer – um processo que geralmente leva anos.
O objetivo dos exames como o Papanicolau, PCR para HPV e a colposcopia é justamente identificar essas lesões precocemente, permitindo o tratamento antes que se tornem um problema grave.
Liberte-se dessa prisão mental do medo, permitindo-se viver o presente com informação e clareza.
Marque um encontro com suas melhores amigas, converse abertamente sobre o que está sentindo.
Você descobrirá que não está sozinha nessa.
Considerando que cerca de 80% da população sexualmente ativa teve, tem ou terá uma infecção por HPV em algum momento da vida, é muito provável que suas amigas, ou as amigas delas, tenham histórias para compartilhar.
Essa troca pode oferecer apoio, conselhos práticos, desmistificar tabus e, acima de tudo, a certeza de que é um problema comum, gerenciável e que não define quem você é.
"Problema adiado é problema piorado" – essa máxima se encaixa perfeitamente aqui.
Enfrentar a situação e resolvê-la o mais breve possível impede que a ansiedade crie raízes e se torne um fardo maior.
Não perca tempo imaginando "e se"; em vez disso, tome as rédeas da situação.
Agende sua colposcopia, sua consulta de retorno ou qualquer exame necessário o mais rápido possível.
Lembre-se: o medo do HPV é compreensível, mas a informação correta, a busca ativa por cuidado médico e a confiança no seu corpo e nos profissionais de saúde são as melhores ferramentas para combatê-lo.
Não se deixe paralisar pelo que ainda não aconteceu.
Artigo por Dra. Flávia Menezes (CRM RJ: 62429-2 / RQE: 51496) – Ginecologista com qualificação em patologias do trato genital inferior e colposcopia (2009).