
Você sabe que a prevenção é a chave para uma vida saudável, certo?
Especialmente quando o assunto é saúde feminina, o exame ginecológico preventivo – tão fundamental – deveria ser uma prioridade.
No entanto, o que observo na prática do meu consultório é que muitas pacientes deixam passar um tempo excessivo entre uma consulta ginecológica e outra.
Isso me leva a refletir: será que ainda existem dúvidas sobre a real importância do exame preventivo? O que leva tantas mulheres a adiarem ou até mesmo ignorarem essa etapa crucial para o seu bem-estar?
Por esse motivo, decidi responder às cinco principais dúvidas sobre o exame preventivo. Vamos a elas!
O Papanicolau, ou simplesmente "preventivo", é um dos exames mais importantes na ginecologia. Como o próprio nome sugere, ele serve para prevenir o câncer de colo do útero.
Sua função primordial é rastrear e detectar alterações nas células do colo do útero que podem ser causadas, principalmente, pela infecção persistente pelo Vírus do Papiloma Humano (HPV).
O HPV é o principal agente causador do câncer de colo do útero, sendo responsável por praticamente todos os casos.
O Papanicolau identifica lesões pré-cancerígenas ou até mesmo o câncer em estágios iniciais, permitindo que sejam tratadas antes que evoluam para um câncer invasivo.
É fundamental entender:
Sim, é absolutamente possível ter o vírus do HPV mesmo com um resultado de Papanicolau normal. Essa é uma das razões pelas quais a periodicidade do exame é tão importante!
O exame preventivo, como qualquer outro teste diagnóstico, não possui 100% de sensibilidade. Isso significa que ele pode, ocasionalmente, não detectar as células alteradas pelo HPV. Desta forma, pode ocorrer um "falso negativo".
Isso pode ocorrer devido a:
Além disso, o vírus HPV pode estar presente no seu organismo sem ter causado ainda alterações celulares visíveis no momento da coleta.
A infecção por HPV é muito comum e, na maioria das vezes (cerca de 90% dos casos), o sistema imunológico consegue eliminar o vírus espontaneamente em até dois anos, sem que a mulher desenvolva qualquer lesão.
A boa notícia é que o câncer de colo do útero é de crescimento lento. Ele leva anos (geralmente 10 a 20 anos) para se desenvolver a partir de lesões pré-cancerígenas. É por isso que a regularidade dos exames é tão importante: ao repeti-los periodicamente (geralmente a cada 1 a 3 anos, dependendo das diretrizes e histórico), mesmo que um resultado pontual escape à detecção, a próxima coleta terá a chance de identificar qualquer alteração, garantindo que você receba o tratamento no tempo certo.
O Papanicolau funciona como um programa de rastreamento contínuo, onde a repetição aumenta a chance de detecção de lesões ao longo do tempo.
Portanto, se o seu Papanicolau veio alterado após exames anteriores normais, não se desespere! Isso é um indicativo de que o sistema de rastreamento está funcionando. Siga a orientação do seu médico para a próxima etapa, que geralmente envolve a investigação da causa da alteração.
ASC-US é a sigla para "Atypical Squamous Cells of Undetermined Significance" (Células Escamosas Atípicas de Significado Indeterminado).
Quando o patologista analisa a lâmina do seu preventivo no microscópio, ele detecta algumas células que não parecem totalmente normais, mas que também não são claramente indicativas de uma lesão causada pelo HPV ou de câncer. Ou seja, ele observa uma "atipia celular de causa não determinada". As alterações são sutis e insuficientes para classificar a lesão como NIC 1 ou superior.
Essa alteração pode ser causada por diversos fatores, além do HPV, como:
O patologista não consegue afirmar com certeza que é uma lesão por HPV, mas alerta o ginecologista para a necessidade de investigação adicional, pois uma pequena porcentagem dos casos de ASC-US pode estar associada a lesões de alto grau ou, mais raramente, a câncer.
Diante de um resultado ASC-US, o ginecologista avaliará o melhor caminho.
As condutas mais comuns incluem:
A decisão dependerá da idade da paciente, de seu histórico clínico, da disponibilidade de outros testes e das diretrizes clínicas locais.
NIC 1 ou LSIL (Low-grade Squamous Intraepithelial Lesion) significa Neoplasia Intraepitelial Cervical de Baixo Grau.
São alterações celulares que o patologista classificou como uma lesão de baixo grau. O termo "intraepitelial" significa que as alterações estão confinadas à camada mais superficial do epitélio (revestimento) do colo do útero e não invadiram as camadas mais profundas ou o tecido conjuntivo subjacente.
A boa notícia é que as lesões de baixo grau (NIC 1) têm uma alta chance de desaparecer espontaneamente. O próprio sistema imunológico do corpo, na maioria das vezes, consegue eliminar o vírus e reverter essas alterações. Estudos mostram que cerca de 60% a 70% das lesões de NIC 1 regridem em até dois anos.
Considera-se uma infecção persistente pelo HPV quando o organismo não consegue eliminar o vírus em um período de cerca de 2 anos. É essa persistência do HPV de alto risco que é o principal fator de risco para o desenvolvimento de lesões de alto grau (NIC 2/3) e, a longo prazo, o câncer de colo do útero.
Fatores como tabagismo e imunossupressão podem dificultar a regressão da lesão. Logo, pare de fumar!
Na maioria dos casos de NIC 1, a conduta é o acompanhamento atento, com repetição do Papanicolau e/ou colposcopia em intervalos definidos pelo médico (geralmente a cada 6 ou 12 meses), aguardando a regressão espontânea da lesão.
A intervenção cirúrgica raramente é necessária para NIC 1, a menos que haja persistência da lesão por mais de 2 anos ou progressão para uma NIC 2.
NIC 2, NIC 3 ou HSIL (High-grade Squamous Intraepithelial Lesion) significam Neoplasia Intraepitelial Cervical de Alto Grau.
Essas são alterações celulares mais avançadas e mais significativas do que as de baixo grau. Elas envolvem uma proporção maior da espessura do epitélio do colo do útero e são consideradas lesões pré-cancerígenas.
É importante entender que HSIL ainda NÃO É CÂNCER INVASIVO, mas é uma lesão que, se não tratada, tem um risco significativamente maior de evoluir para câncer invasivo ao longo do tempo (em até 30-50% dos casos de NIC 3 não tratados).
Ao contrário das lesões de baixo grau, as lesões de alto grau (NIC 2 e NIC 3 / HSIL) dificilmente apresentarão cura espontânea, exceto em situações muito específicas, como em jovens com menos de 25 anos, onde o potencial de regressão é maior e uma conduta de observação pode ser considerada, mas com acompanhamento rigoroso e individualizado.
Na grande maioria dos casos, essas lesões necessitam de tratamento para a retirada da área afetada.
O objetivo é remover todas as células anormais para prevenir a progressão para câncer invasivo.
O procedimento mais comum e eficaz é a conização por cirurgia de alta frequência (CAF), também conhecida como LEEP (Loop Electrosurgical Excision Procedure) ou excisão eletrocirúrgica com alça.
Após o procedimento, é fundamental um acompanhamento rigoroso com Papanicolau e/ou teste de HPV periódicos para monitorar a recorrência da lesão ou a persistência do vírus.
Sua saúde é sua maior prioridade!
Não adie seus exames ginecológicos.
Eles são a sua principal ferramenta para garantir bem-estar e tranquilidade, permitindo a detecção precoce e o tratamento eficaz de condições que, se não abordadas, poderiam ter sérias consequências.
Artigo por Dra. Flávia Menezes (CRM RJ: 62429-2 / RQE: 51496) – Ginecologista com qualificação em patologias do trato genital inferior e colposcopia (2009).
Fontes Consultadas (Bibliografia):