
O universo da saúde feminina pode, por vezes, parecer complexo e cheio de termos que geram dúvidas.
Exames, diagnósticos e tratamentos, especialmente quando relacionados ao HPV e a alterações cervicais, podem gerar ansiedade.
No entanto, nosso objetivo aqui é justamente o contrário: desmistificar e esclarecer de forma simples e direta o que você precisa saber para se sentir informada e tranquila.
Hoje, vamos aprofundar um teste bastante tradicional e importante na ginecologia: o Teste de Schiller.
De maneira descomplicada, o Teste de Schiller é um procedimento simples que consiste na aplicação de uma solução específica no colo do útero, conhecida como Lugol ou solução de Lugol.
Esta solução iodada (composta por iodo e iodeto de potássio diluídos em água destilada) age de uma forma muito particular, baseada na presença de glicogênio nas células:
Ou seja, de forma geral, um colo do útero que se colore por completo com o Lugol é um sinal de saúde!
A reação do iodo com o glicogênio é a base para a identificação de áreas que podem necessitar de investigação adicional.
Aqui está um ponto que costuma gerar confusão, pois a terminologia pode ser contraintuitiva para quem não está familiarizado com a linguagem médica.
É importante entender o significado desses termos no contexto do Teste de Schiller:
Teste de Schiller NEGATIVO: Indica que o colo do útero corou completamente com o Lugol (ficou marrom escuro). Isso significa que as células estão saudáveis, com "iodo positivo" (absorveram o iodo de forma esperada). NÃO HÁ SUSPEITA DE DOENÇA OU ALTERAÇÃO SIGNIFICATIVA.

Teste de Schiller POSITIVO: Indica que o colo do útero apresentou áreas que NÃO coraram com o Lugol. Essas áreas, chamadas de "iodo negativas", são suspeitas de alguma alteração celular. EXISTE SUSPEITA DE DOENÇA OU ANORMALIDADE.

Em resumo: um resultado NEGATIVO é o que você espera, pois significa um colo de útero saudável. Um resultado POSITIVO requer atenção e investigação adicional, pois aponta para a presença de células que não se comportam como as células normais em relação ao iodo.
O Teste de Schiller pode ser realizado em duas situações principais, com propósitos e níveis de precisão distintos:
Nesse cenário, o médico aplica o Lugol diretamente no colo do útero e o observa sem o auxílio de lentes de aumento. Pode ajudar a identificar áreas suspeitas, mas sua precisão é limitada.
Devido à sua baixa especificidade (capacidade de identificar corretamente a ausência de doença) quando usado isoladamente, muitas áreas que não coram podem ser apenas pequenas alterações inofensivas (como inflamações, áreas de metaplasia ou atrofia fisiológica) e não lesões pré-cancerígenas. Isso pode gerar preocupação desnecessária ou até levar a falsos positivos.
Por essa limitação, o uso isolado do Schiller em exames de rotina tem sido cada vez menos frequente como ferramenta de triagem primária.
Esta é a forma mais assertiva e de maior valor diagnóstico do Teste de Schiller.
A colposcopia utiliza um aparelho (o colposcópio) que amplia a imagem do colo do útero em até 40 vezes, permitindo ao especialista uma visão detalhada e minuciosa da superfície cervical.
Primeiro, o ácido acético é aplicado: Esta solução é utilizada antes do Lugol. Células anormais reagem de forma mais intensa, tornando-se esbranquiçadas (lesões acetobrancas).
Em seguida, o Lugol (Teste de Schiller) é aplicado: Após a avaliação com ácido acético, o Lugol é aplicado. A combinação das informações obtidas com o ácido acético e o Lugol, juntamente com a experiência do colposcopista, permite diferenciar lesões significativas de alterações benignas.
O Schiller, neste contexto, atua como um complemento valioso para guiar a biópsia. As áreas iodo-negativas mais suspeitas são as que o médico irá priorizar para a coleta de amostras de tecido (biópsia), que serão enviadas para análise histopatológica.
É fundamental entender que nem toda área que não cora com iodo é necessariamente uma lesão grave.
Como mencionado, o Teste de Schiller, quando realizado isoladamente ou a olho nu, tem uma baixa especificidade. Isso significa que, embora seja sensível (ou seja, raramente perde uma lesão significativa se ela estiver presente), ele também pode indicar como "positivas" muitas condições benignas que não representam risco, levando a uma alta taxa de falsos positivos.
Exemplos de condições benignas que podem não corar com o Lugol incluem:

É por essa razão que, atualmente, o teste de Schiller é mais valorizado e utilizado como um complemento dentro da colposcopia, onde a visão ampliada, a aplicação sequencial de ácido acético e Lugol, e a experiência do colposcopista garantem uma interpretação muito mais segura e confiável dos resultados, minimizando a ansiedade e a necessidade de procedimentos desnecessários. A análise conjunta desses achados permite um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado.
Agende seu exame de colposcopia com a Dra. Flávia Menezes, ginecologista especialista em HPV
Artigo por Dra. Flávia Menezes (CRM RJ: 62429-2 / RQE: 51496) – Ginecologista com qualificação em patologias do trato genital inferior e colposcopia (2009).
Fontes Consultadas (Bibliografia):