
Receber um teste de HPV positivo gera preocupação.
Mas a angústia pode ser ainda maior quando o teste volta a dar positivo após um período negativo, ou quando a detecção envolve mais de um tipo viral.
É fundamental entender que o cenário do HPV é dinâmico e, na maioria das vezes, a calma e a informação são seus maiores aliados.
Quando um teste de HPV retorna positivo, especialmente após um resultado negativo anterior, ou de forma intermitente (ora positivo, ora negativo), pode indicar algumas situações:
Uma nova detecção do mesmo tipo de HPV (também conhecida como detecção intermitente) é relativamente comum, ocorrendo em uma porcentagem significativa de mulheres que já haviam "eliminado" o vírus.
A detecção intermitente não é um fator de risco para o câncer de colo do útero.
É perfeitamente possível e comum que uma pessoa seja infectada por mais de um tipo de HPV ao mesmo tempo (coinfecção) ou sequencialmente (infecções por tipos diferentes em momentos distintos).
A maioria dessas múltiplas infecções, assim como as infecções por um único tipo, também é transitória e se resolve espontaneamente.
A grande maioria das infecções por HPV, mesmo as múltiplas ou intermitentes, é eliminada pelo sistema imunológico sem causar problemas graves.
O corpo humano é muito eficiente em combater esses vírus.
O verdadeiro fator de risco para o desenvolvimento de lesões pré-cancerígenas e, posteriormente, do câncer de colo do útero, não é a detecção do HPV em si, mas sim a persistência prolongada do mesmo tipo viral de alto risco. Ou seja, é a presença contínua, por anos, de um HPV oncogênico (que pode causar câncer) que aumenta o risco, e não a detecção transitória ou intermitente.
Uma mulher realizou seu exame anual e o PCR para HPV detectou o HPV de alto risco tipo 16. A colposcopia foi indicada e diagnosticou uma NIC 1 (Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau 1), que representa uma lesão de baixo grau. Lesões de baixo grau frequentemente regridem espontaneamente.
No ano seguinte, o teste continuou a detectar o HPV 16, indicando que o vírus estava persistindo. A persistência viral é um fator de risco importante para a progressão das lesões. Apesar da persistência viral, o exame de Papanicolau estava normal. Ela foi corretamente orientada a fazer um novo exame de colposcopia, que identificou novamente uma NIC 1. Embora ainda houvesse grande chance de regressão espontânea, a persistência do HPV e da lesão demandava monitoramento contínuo.
No segundo ano, o exame de PCR novamente detectou o HPV do tipo 16, confirmando a persistência viral por mais um ano. O Papanicolau continuava a normal. Este cenário reforça a importância do PCR para HPV como um indicador mais sensível da atividade viral do que o exame de Papanicolau.
Um terceiro exame de colposcopia, indicado pela persistência do vírus e pela preocupação com a evolução, foi realizado e identificou uma progressão para NIC 2 (Neoplasia Intraepitelial Cervical Grau 2).Imediatamente, o tratamento foi recomendado.
A paciente foi submetida a uma conização por CAF (Cirurgia de Alta Frequência). É um procedimento rápido e eficaz para remover a lesão. A cirurgia foi um sucesso, com a remoção completa da NIC 2 e margens livres, um achado histopatológico crucial que indica que todo o tecido alterado foi removido, minimizando o risco de recorrência.
Seis meses após o procedimento, no primeiro controle, o PCR não detectou mais o vírus, indicando a eliminação viral e o sucesso do tratamento.
Observe que se estivéssemos acompanhando somente com o exame de Papanicolau, esta NIC 2 poderia ter sido subestimada ou ter demorado a ser diagnosticada e tratada, pois o Papanicolau, mesmo sendo uma ferramenta de rastreamento excelente, possui suas limitações de sensibilidade.
Este é um exemplo claro de como o monitoramento da persistência do HPV de alto risco, em conjunto com exames citológicos (Papanicolau) e a avaliação colposcópica com biópsia dirigida, permite uma abordagem integrada e a intervenção adequada no momento certo.
A detecção persistente do mesmo tipo viral funcionou como um alarme importante, levando ao diagnóstico precoce de uma lesão tratável e à sua cura, impedindo que ela evoluísse para um câncer cervical invasivo.
Portanto, mantenha seus exames de Papanicolau e PCR para HPV em dia, conforme a orientação do seu médico. Essa vigilância ativa é a melhor forma de cuidar da sua saúde, prevenir problemas mais sérios e viver com a tranquilidade de saber que você está sendo monitorada com excelência.
Agende seu exame de colposcopia com a Dra. Flávia Menezes, especialista em HPV.
Artigo por Dra. Flávia Menezes (CRM RJ: 62429-2 / RQE: 51496) – Ginecologista com qualificação em patologias do trato genital inferior e colposcopia (2009).
Fontes Consultadas (Bibliografia):